No Novo Testamento, um texto-chave sobre o ministério profético é o de 1 Coríntios 13.8: “O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará”. Essa é uma declaração básica sobre o futuro, esclarecendo se haveria ou não profecias, línguas ou ciência (aumento do conhecimento bíblico).
A Bíblia explica, portanto, que essas coisas certamente cessarão. A questão é: quando elas cessarão? Chegaremos mais perto da resposta se continuarmos lendo os versículos 9-10: “porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado”. O que fora designado como passageiro, as profecias, as línguas e a ciência, cessaria com a chegada do que “é perfeito”. Poderíamos pensar que “o que é perfeito” seria a vinda de Jesus e o início do Seu reinado na terra. Mas o versículo 13 mostra que não é isso:
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três (não profecias, línguas e ciência, que claramente já deixaram de existir); porém o maior destes é o amor” (1 Co 13.13).
Se “o que é perfeito” fosse a volta de Cristo e Seu reino, isso significaria que a fé e a esperança permaneceriam, ao lado do amor. É evidente que o amor permanecerá por toda a eternidade. E como ficam a fé e a esperança? Ambas tornam-se desnecessárias quando o reino de Deus se tornar uma realidade visível. Quando estivermos vendo Aquele que fora objeto de nossa fé no passado, não precisaremos mais crer. Em outras passagens, a Bíblia nos ensina que passaremos do crer para o ver, do abstrato para o concreto:
– 2 Coríntios 5.7: hoje vivemos por fé e não pelo que vemos.
– Hebreus 11.1: a fé está relacionada com coisas que não vemos.
– Romanos 8.24: esperança que se vê não é esperança.
Portanto, um dia passaremos do crer para o ver, da fé e da esperança para ver a Cristo – quando Ele voltar. E quando estivermos vendo a Jesus e participando do Seu reino, a fé e a esperança não serão mais necessárias. Mas o amor permanecerá. Portanto, “o que é perfeito” não pode ser a volta de Cristo e Seu reino eterno. Então, o que poderia significar o versículo 13 de 1 Coríntios 13?
Na minha opinião, ele refere-se à conclusão do cânon bíblico, que se deu por volta do ano 100 d.C. com a redação do livro do Apocalipse. Quando foi escrita a carta aos Coríntios, a revelação neotestamentária ainda não estava completa; a revelação divina também não estava concluída. Por isso ainda havia profecias por meio de profetas, assim como o dom de línguas com interpretação. Em conseqüência houve um aumento no conhecimento (ciência), justamente porque nem tudo estava revelado. Com a conclusão da Bíblia, essas coisas cessaram, e se mantiveram a fé, a esperança e o amor.
Diante dessa problemática, certamente não é por acaso que a Bíblia termina com as palavras: “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro” (Ap 22.18-19).
Nada deve ser acrescido à Bíblia, nada deve ser tirado. A revelação divina está completa e acabada. Obrigatoriamente não poderá mais haver profecias, pois se esse ministério continuasse depois do registro bíblico, as profecias teriam de ser inspiradas diretamente por Deus (2 Pe 1.20-21) e acrescidas à Bíblia como revelações complementares. Da mesma forma, nada deve ser retirado da Bíblia, como costuma fazer o liberalismo teológico.
Na época da primeira geração da Igreja obviamente ainda havia profetas, entre eles Paulo, Barnabé, Judas, Silas, Ágabo e outros (At 13.1; At 15.32; At 21.10), assim como houve apóstolos até a finalização do texto bíblico (1 Co 12.28; Ef 4.11). Assim como hoje, depois de concluído o cânon do Novo Testamento, não existem mais apóstolos, também deixaram de existir os profetas. Se não fosse assim, poderíamos concluir inversamente que ainda deveria haver apóstolos, o que é impossível conforme Hebreus 2.4, que usa o verbo no tempo passado. Os apóstolos e profetas foram chamados “apenas” para lançar a base e o fundamento, para estabelecer a Igreja (Ef 2.19-22).
Mas o que continua com toda a certeza, mesmo depois da conclusão da revelação divina e até a volta de Jesus, é o ministério de evangelistas, pastores e mestres (Ef 4.11-12). Seu serviço continua edificando a Igreja de Jesus depois que o fundamento foi colocado pelos profetas e apóstolos de uma vez por todas.
Nesse aspecto é interessante observar que o apóstolo Pedro fala (em 2 Pedro 2.1) de falsos profetas no tempo passado, mas em relação ao futuro ele menciona apenas falsos mestres e não falsos profetas. Como apóstolo, ele sabia que no futuro não haveria mais profetas; portanto não haveria falsos profetas, mas haveria, sim, falsos mestres: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (2 Pe 2.1).
Depois da era da Igreja, no tempo da Tribulação, haverá novamente profetas verdadeiros: as Duas Testemunhas do Apocalipse (Ap 11.10). E então haverá mais uma vez um “falso profeta” imitando esse ministério (Ap 19.20).