• domingo, 18 de setembro de 2016

    Ego: O Problema Número um da Humanidade

    As atuais visões sobre o “ego” são, no mínimo, confusas. O mundo tem uma série delas. Todas ensinam a importância de uma pessoa ter uma visão positiva sobre si mesma. A Bíblia, por outro lado, não tem nada de bom para falar sobre o ego. Não obstante, a igreja, particularmente nos últimos cem anos, tem refletido cada vez mais o que o mundo prega, em vez de pregar o que as Escrituras ensinam. Como nos lembrou Dave Hunt:

    Embora não possamos definir o ego mais do que podemos definir alma, ser ou beleza, podemos ver claramente quando o ego primeiro se manifestou, como isso aconteceu e quais foram os resultados eternos. Também podemos ver que o ego não apenas define uma pessoa como distinta de todas as outras, mas que também define o homem como distinto de Deus. O que a Bíblia parece sugerir como ego é o homem separado de Deus, agindo e possuindo [coisas] com independência. Foi por isso que Cristo fez da negação do ego uma condição para que alguém seja Seu discípulo, e por isso há uma falha fatal na teologia da auto-estima.

    A Palavra de Deus revela que o ego primeiramente ergueu sua feia cabeça no Céu. Lúcifer era um anjo ungido que se tornou adversário (Satanás) de Deus, exaltando a si mesmo: “Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte;?subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14.13-14). Assim, a vontade própria (ego) de Lúcifer, isto é, suas afirmações: “subirei, exaltarei, assentarei, serei”, suplantaram a submissão a Deus e à Sua vontade e as consequências não foram boas: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28.15). “Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo” (Is 14.15).

    Satanás trouxe seu conceito de “ego” rebelde para a terra e, com ele, seduziu Eva. Sua estratégia começou com a semeadura de ideias confusas sobre o que Deus havia dito (a principal atividade de Satanás), e depois alimentando Eva com mentiras auto-orientadas: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.5). Isso deu início à mentira da auto-deificação e do conceito de divindade para a humanidade, mentira na qual o engano da serpente encontrou solo fértil. “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gn 3.6). O ato de desobediência de Adão e Eva contra a única ordem proibitiva dada a eles por Deus estabeleceu o pecado e o ego em seu caminho destrutivo. Consequentemente, toda a humanidade ficou separada de Deus e em busca de satisfazer seu ego.

    O foco do mundo é valorizar muito o ego. Por quê? Porque há somente duas opções com relação a qualquer esperança em potencial para a humanidade: o ego e Deus (a saber, o Deus da Bíblia). O ego é a escolha do mundo: a vontade e a maneira do homem em oposição à vontade e à maneira de Deus. O ego é a única opção que resta para todos os que rejeitam o Deus da Bíblia. Embora pareça que existem outras opções, inclusive as religiosas, todas são variações da obstinada “salvação pelas obras” e da justiça própria, com algumas sendo mais óbvias que as outras.

    O islamismo, por exemplo, ensina justiça pelas obras. No Dia do Julgamento, Alá pesará as boas obras da pessoa em comparação com as ofensas que a pessoa cometeu, e o peso das primeiras contra o peso das últimas determinará se a pessoa será salva ou não, isto é, se a pessoa poderá ou não entrar no paraíso.

    O catolicismo emprega uma abordagem semelhante. A entrada no céu é dependente das boas obras da pessoa e da aderência aos sacramentos, bem como da expiação dos pecados através de sofrimentos temporais aqui ou no purgatório. Fazer boas obras a fim de alcançar a salvação é prática denunciada nas Escrituras: a salvação não vem das obras, para que ninguém se glorie: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9).
    Todas as religiões, desde as mais legalistas às mais liberais e até as místicas, têm o ego como o núcleo para se alcançar uma consequência positiva com respeito à vida após a morte. Somente o cristianismo bíblico ensina que negar o eu e se voltar somente para Jesus para obter a salvação é que são aceitáveis a Deus. A Bíblia indica que a mentira de Satanás de que a humanidade pode alcançar a divindade finalmente se manifestará nos últimos dias através do Anticristo, “o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2Ts 2.4). A mentira de Satanás não é apenas prevalecente nas seitas, tais como o mormonismo, pois a Igreja Católica Romana ensina a união mística com Deus em seu catecismo oficial:

    Pois o Filho de Deus tornou-se homem para que nós pudéssemos nos tornar Deus. (...) O Unigênito Filho de Deus, querendo nos tornar participantes da Sua divindade, assumiu nossa natureza, para que, feito homem, pudesse fazer que os homens fossem deuses (Catechism of the Catholic Church [Catecismo da Igreja Católica], Parágrafo 460).

    A auto-deificação obtida através de rituais sagrados é encontrada em todas as religiões do Oriente. O budismo tibetano do Dalai Lama ensina rituais de iniciação para capacitar a pessoa a se tornar um “bodhisattva”, ou seja, uma deidade iluminada. O xintoísmo, que é a principal religião do Japão, envolve inúmeras cerimônias de auto-purificação que abrem caminho para os seguidores se tornarem “kami”, ou seja, deuses ancestrais. A deificação do ego, como é observada em Gênesis 3.5, é evidente nas formas do hinduísmo que ensinam métodos de auto-realização, a saber, técnicas para se alcançar a divindade. Ensinam que o ego individual é um deus cujo objetivo é se fundir com o Tudo, Brahman, a deidade suprema do hinduísmo. É disso que a yoga trata.

    A auto-realização tem sua contrapartida na psicologia humanística, onde é denominada “auto-atualização”. A conexão entre o misticismo oriental e a psicologia foi reconhecida há muito pelos psicólogos ligados às pesquisas, que documentaram o fato de que o hinduísmo foi trazido para o Ocidente e se tornou popular através do veículo da psicologia. Embora não seja imediatamente reconhecida como auto-deificação, ela é o objetivo da auto-atualização, que é definida simplesmente como a busca pela realização extrema do potencial de uma pessoa. Esta é a base para o Movimento do Potencial Humano, que é difundido em muitas das mais destacadas corporações do Ocidente em seus programas de treinamento.

    O ego é a pedra angular de todo o aconselhamento psicológico. Todos os seus mais de 500 conceitos são contrários à Palavra de Deus, sendo que a psicoterapia rejeita essencialmente o próprio Deus. Tendo sido removido pela psicologia, só resta o ego, e, assim, o ego se torna a única esperança de solução para os problemas da humanidade. Um ensinamento fundamental do aconselhamento psicológico é que o homem é intrinsecamente bom. Quaisquer dificuldades mentais, emocionais ou comportamentais que ele experimente devem, portanto, ter origem em coisas externas a ele, por exemplo, o meio em que ele vive, seus pais, suas crenças, seus traumas emocionais e físicos, etc. Se, contudo, questões adversas na vida de uma pessoa forem principalmente consequência de um coração pecaminoso, então a abordagem psicoterapêutica é um engano. Por quê? Porque, de acordo com a Bíblia, a humanidade tem uma natureza pecaminosa: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9), e: “Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt 15.18-19). Os conceitos e as práticas da psicologia não conseguem jamais mudar a natureza pecaminosa de um indivíduo. Além disso, o ensinamento bíblico sobre o pecado é oposto, bem como ofensivo, ao aconselhamento psicológico.

    Sabemos que o ego é o veículo chefe do pecado. E o que a Bíblia diz sobre a maneira pela qual uma pessoa deve tratar com o ego? A fim de entendermos isso, é necessário compreendermos a perspectiva bíblica relativa ao ego. “Ego” é sinônimo de pecado. Todos os seres humanos (exceto Cristo, o único Deus-Homem sem pecado) nascem com uma natureza pecaminosa. Nenhuma parte da Escritura deixa isso tão claro quanto o Salmo 51.1-5: “Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar. Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe”.

    O ego também envolve a vontade – que é autônoma – e aí está o problema. A vontade do homem, por causa de sua natureza pecaminosa, é natural e continuamente disposta em direção ao próprio homem. Este é o campo fértil da rebeldia: “Não se faça a Tua vontade, mas a minha”. O ego não é dado à submissão a ninguém, exceto a si mesmo. Filipenses 2.21 confirma que “todos eles buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus”. Entretanto, Deus tem a solução para o dilema da auto-orientação da vontade própria da humanidade. Deve começar com um novo nascimento – um nascimento espiritual, vindo do alto.

    Quando a pessoa recebe o Evangelho simples somente pela fé, está se submetendo, de coração, a Deus e se comprometendo a obedecer aos Seus ensinamentos encontrados nas Escrituras. Embora seja, então, nascido de novo espiritualmente e tenha se tornado uma nova criatura em Cristo, o homem ainda retém sua velha natureza pecaminosa, mas foi liberto do controle que essa natureza exercia sobre ele. Não obstante, uma batalha espiritual segue entre fazer sua própria vontade ou fazer a vontade de Deus. Deus deu a todo crente o Espírito Santo para ajudá-lo a vencer cada batalha em favor da vontade de Deus. Sobretudo, Ele também deu aos cristãos nascidos de novo instruções para a batalha espiritual de Sua vontade versus a vontade e o ego do homem.

    A submissão a Deus é essencial: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Esse compromisso se refere não apenas a determinadas questões, mas a toda a vida do indivíduo. “Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará” (Lc 9.24). Jesus apresenta uma ilustração sobre aquilo que a salvação deve implicar na vida de um crente: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna” (Jo 12.24-25).

    O apóstolo Paulo escreveu: “Dia após dia, morro!” (1Co 15.31). E: “Se já morremos com ele, também viveremos com ele” (2Tm 2.11). Em Colossenses 3.3, ele declara: “Porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus”. O que ele quis dizer? Em Gálatas 2.19-20, ele explica: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”. Depois de listar algumas de suas contínuas tribulações, Paulo escreve: “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal” (2Co 4.10-11). A “morte” é a morte da vida autônoma da vontade própria; e a “vida” é uma vida entregue totalmente à vontade de Deus.

    A Palavra de Deus exorta os crentes a que sejam voltados para os outros. Considere as seguintes passagens: “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co 5.14-15). “Nada façais por partidarismo ou vanglória [ambição egoísta], mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Fp 2.3-4). Isto é altruísmo bíblico.

    A Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, em seus capítulos 10 e 13 (o capítulo que fala sobre o “amor”), nos fornece uma exortação adicional. Nossa mente fica perplexa quando consideramos como as doutrinas pérfidas e não-bíblicas de amor ao ego e da auto-estima têm sido tão amplamente pregadas e promovidas em meio à cristandade. Se não fosse pelas Escrituras profetizando que isto aconteceria nos últimos dias (2Tm 3.1-2), a invasão da psicologia do ego na igreja, através da chamada psicologia cristã, pareceria incrível. Mas estamos vivendo nesses dias!

    Jesus, que é completamente Deus e completamente Homem, nos mostra em Sua própria vida o perfeito altruísmo: “Tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.28). “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.12-13). Além disso, Ele demonstra para nós Sua submissão à vontade de Deus, o Pai. Como Homem, Ele é o perfeito ego sem pecado. Ele, mesmo sendo parte da Trindade, sujeitou Sua vontade ao Seu Pai. “E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora. E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres” (Mc 14.35-36; veja também Lc 22.44).

    O que Jesus demonstrou, no que se refere ao altruísmo, seria impossível para qualquer crente, exceto pelo fato de que todo verdadeiro seguidor de Cristo foi selado com o Espírito Santo, que o capacita a viver as instruções de Cristo: “Para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior” (Ef 3.16). “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder” (Ef 6.10). Que a oração encontrada em Hebreus seja nosso contínuo clamor ao Senhor e nosso encorajamento na batalha contra nosso ego: “Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém!” (Hb 13.20-21).

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